17 de novembro de 2018

O Amante de Lady Chatterley

Olá, meus leitores prediletos!


Então mais uma vez nos encontramos nesse espacinho delicioso para conversamos um pouco sobre algo incrível que li. E hoje a conversa é sobre o clássico "O Amante de Lady Chatterley", escrito por D.H. Lawrence e publicado por ele mesmo em 1929.



É uma obra incrível e estou empolgada em contar a respeito para vocês. Vem comigo!




O Amante de Lady Chatterley é uma obra que fala do sexo. Sim, porém a obra não se resume apenas a sexo, embora seja possível notar facilmente a ênfase que Lawrence queria dar justo a esse assunto. 
Mas por que, afinal, o autor queria tanto polemizar com esse assunto?

E a resposta é:  a questão não é que ele quisesse polemizar. Para entendermos, vamos retornar ao ano de 1917, ano em que a história começa. Estamos em um período pós revolução industrial, o qual com o passar do tempo, gerou disputas acirradas entre as grandes potências e fez eclodir assim a Primeira Guerra Mundial. O cenário pós Primeira Guerra nos remete a homens que voltaram da guerra dilacerados, seja física ou emocionalmente, as mudanças da sociedade perante todo esse abalo, as indústrias avançando, os homens lutando para se manterem na máquina industrial, dando suas vidas nas indústrias que agora sustentavam cidades inteiras.

Não foi um período muito simples de viver. E sobretudo, faltava amor. O amor genuíno. O amor que era mais do que apenas o que a sociedade poderia classificar como aceitável. Faltava que os homens fossem mais homens, para que as mulheres pudessem se sentir mais mulheres. Uma troca intensa e verdadeira de sentimentos, de intimidade que iria muito além do que as boas maneiras ensinadas julgariam necessárias. Lawrence acreditava piamente que toda a amargura humana se devia aos limites do que se dizia ser o amor. Até onde era certo ou errado uma entrega completa entre os casais, que poderia fazer com que grande parte dos problemas fossem amenizados simplesmente por estarem lado a lado pessoas que se somassem, e assim automaticamente adquiriam um resultado confiável e confortável nessa soma.

 De modo, Lawrence nos apresenta a jovem Constance (Connie) casando-se com Clifford Chatterley em 1917, e recebendo seu marido no ano seguinte, ao retornar da guerra, em frangalhos, como mesmo é descrito no livro. Clifford fica dois anos no hospital e sai condenado à uma cadeira de rodas para o resto da vida. Apesar de não se deixar deprimir por sua condição, Clifford se envergonha da mesma, se mantendo sempre em sua propriedade, Waragby Haal, em Tevershall. Porém há a necessidade de firmar-se como homem. Ele precisa de Connie ao seu lado, seu apoio. Ele precisa de alguma forma, alcançar reconhecimento. Poder. Se empenhou então na escrita na tentativa de ser além do homem preso na cadeira de rodas, ser o homem importante que, embora sua condição, manteve sua mulher fiel ao seu lado e conquistou o sucesso.



Morte e horror além da conta. Um homem precisava de apoio e consolo. Um homem precisava de uma âncora num mundo seguro. Um homem precisava de uma esposa. 



Connie, por sua vez, entende que esse é o seu papel genuíno de esposa: cuidar de Clifford, apoia-lo e servi-lo. Sua vida torna-se nula nesse propósito. E embora em algum momento ela se julgasse satisfeita pelo que tinha, seu próprio emocional a desmentira quando ela quase caiu em depressão. E para não adoecer, se viu obrigada a abrir mão da vida que vivia pelo marido, para buscar uma vida vivida por si própria. É nesse momento que Connie deixa Clifford aos cuidados da espirituosa sra, Bolton, e seguindo recomendações médicas passa a se dar mais tempo, esvaziando a mente da rotina viciosa de ser a sombra de Clifford. Connie  percebe o quanto deixou de viver, o quanto gostaria de ter para si, e o quanto nada tinha, pois os amigos, os livros, os título de nobreza, tudo era Clifford.



E, à medida que se espalhava por Clifford, Connie também se sentia tomada. Um medo interior, um vazio, uma indiferença a tudo se apossavam de sua alma.


Em seus passeios pelo bosque de sua propriedade, ela se envolve com Mellors, o guarda-caça da propriedade. Um homem sofrido, que também sobrevivera a guerra, mas do contrário de Clifford, seus maiores danos foram apenas emocionais. Um homem fechado, que pouco a pouco vamos conhecendo melhor. O que começa parecendo encontros de sexo furtivo, logo se torna um romance tórrido, onde ambos se completam pela necessidade de amor. Não apenas das palavras, não apenas do sexo, mas dos dois juntos. A "foda com ternura", como muitas vezes foi definida por Lawrence. Aquela liberdade de se soltarem de se darem prazer e depois de tudo, se amarem ainda.



Minha alma adeja de leve na pequena chama do meu pentecostes com você, como a paz que vem depois da foda. Nossas fodas fizeram brotar uma chama. Até o brotar das flores é provocado pela foda entre o sol e a Terra. Mas é uma coisa delicada, que requer paciência e uma longa espera.  




Pode parecer uma coisa muito simples e por que não, fácil de conseguir. Mas estamos falando do início do século XX, onde sexo é imoral, casamento é convenção social. Onde todos viviam em um molde e seguiam uma cartilha aprovada pela sociedade.  Mergulhar em prazeres sexuais não era algo que uma mulher direita fazia. Tampouco um homem deveria esperar isso de sua companheira. Havia um certo limite de intimidade entre um casal decente. Limite esse que foi bravamente questionado por Lawrence nessa obra.

Projetando-se sobre seus próprios personagens, cada um tivera de Lawrence algum aspecto. Ao mesmo tempo que, como tuberculoso, ele fosse um homem limitado como Clifford, ele também possuía as ideias libertadoras de Mellors acerca do dinheiro, da sociedade e em especial, do sexo. O sexo deveria ser, para o casal, algo que realmente os ligasse de forma íntima e emocional. Não apenas uma distração comprada, algo banal ou que tivesse que seguir como julgado correto. Connie alimentava a mesma ideia.  E mais do que isso, observava em sua vida antes vazia, a imensa necessidade de ter o que Mellors enfim podia oferecer-lhe, somada à liberdade de seguir seus próprios instintos, desconsiderando a visão crítica da sociedade que poderia recair sobre si.



Agora, embora dentro de si mesma estivesse chorando em algum lugar, via-se livre do domínio das outras mulheres. Ah! O que já era um alívio e tanto, como se tivesse conseguido dar início a uma vida nova: livre do estranho domínio e da obsessão das outras mulheres 




Não é de se estranhar que viver um amor totalmente fora das convenções, quando se trata de uma mulher de classe alta e um simples trabalhador do início do século passado, não é uma façanha que se consiga sem um certo número de obstáculos, os quais foram muito bem colocados, e mais uma vez, em forma de crítica à hipocrisia social.



 "Mas você vai se fartar dele em pouco tempo", disse Hilda, " então ficará com vergonha dessa ligação. Não podemos nos misturar com trabalhadores." 
"Logo você, tão socialista! Sempre ao lado da classe dos trabalhadores!" 
"Posso me alinhar com eles numa crise política, mas justamente por isso sei que é impossível misturar minha vida com a deles." 






Considerações Finais


A figura do sexo sujo, banal, vergonhoso fora substituída pelos amantes como uma ligação genuína que faz com que o amor funcionasse da forma correta, sem nenhuma carência, sem nenhuma pendência. O amor carnal e emocional, somados de modo que transformava toda relação plena e confiável. Lawrence chega a argumentar sobre a pouca masculinidade dos homens diante das posições que tomavam ao assunto, pois um homem que limitava-se fosse pelas convenções sociais acerca do assunto, ou pelo tempo excedido que usava para ganhar dinheiro, não era um homem de verdade, era uma máquina manipulada. E com isso, fazia com que as mulheres também deixassem de ser de verdade, sendo ainda levadas à mesma manipulação, sem se darem o direito de apreciarem a intimidade. 

Em meio a todo esse contexto, vamos vislumbrar muitas críticas sociais que vão muito além das relações sexuais. Mas como as pessoas se influenciam e se manipulam, ainda que inconscientemente, para se encaixarem em uma determinado grupo. Como são capazes de reprimirem seus verdadeiros ideais para clamarem por ideais em que a maioria de sua classe se coloca, ainda que grande parte dessas pessoas não seja inteiramente de acordo com tudo que pregam.

É uma leitura que por diversos aspectos é muita valorosa. Em minhas experiência, iniciei o livro vivendo aquele certo tédio em que Connie estava envolta em sua vida. A escrita densa narrando os círculos sociais com suas conversar abstratas e genéricas, onde todos faziam questão de estarem sempre bem aprumados para os demais. A emoção aumentava conforme os encontros entre Connie e Mellors aconteciam e o relacionamento deles aprofundava-se, fazendo com que o tedioso momento inicial desse lugar à ansiedade do próximo encontro e por fim, ao desfecho da história.

O final, porém, pode não ser o mais esperado, mas particularmente achei satisfatório por ter de Mellors as respostas que eu queria muito ter ao longo dos encontros, mas que muitas vezes me deixavam no meio do caminho por ele ser o homem tão fechado que era. Mellors sempre foi muito melhor com atitudes do que com palavras, mas quando as mesmas finalmente saíram, foi para deixar o leitor reconfortado com o modo como tudo estava planejado para o fim.

A minha edição é da Coleção Clássicos da Penguin Companhia, uma edição maravilhosa, de 560 páginas, nas quais introdução, notas, apêndice, cronologia e tudo vai servir como material de apoio para entendermos melhor a obra e o autor. Com uma boa diagramação, páginas confortáveis para leitura, português e tradução impecáveis! Essa edição só me deve as orelhas na capa, pois sem elas a capa fica muito fragilizada. Mas apesar disso, sem dúvidas é a edição que recomendo.








Por hoje vou encerrando por aqui, e se você esteve comigo nessa jornada, me conte se já conhece O Amante de Lady Chatterley!
De todo modo, espero que tenham gostado. Muito obrigada a todos que vieram até aqui, e um super beijo!











     




Nenhum comentário:

Postar um comentário


© LUAR DE LIVROS - 2017.
Tecnologia do Blogger.